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Cinema (Adeus às Ilusões)

 

1909... começo de um século de doce lirismo e a busca de novos inventos.

Nosso povo tomava conhecimento de que havia uma nova e bonita forma de entretenimento: o cinema.

Era quase um milagre; fotografias que se movimentavam imitando vidas, parecendo sonho.

Vindos de Santa Rita do Passa Quatro, José Soares, João Mariano e Caetano Mango andaram por aqui, trazendo estranha aparelhagem e fazendo exibições em diversos locais.

Não demorou muito Manoel Lourenço Junior, português aqui radicado, homem de larga visão e espírito de iniciativa, tratou de comprar o terreno onde é hoje a loja Queiroz, e construir uma casa de diversão.

A compra do terreno aconteceu dia 27 de dezembro do mesmo ano e, no dia 2 de agosto do ano seguinte assinava contrato de dez anos com a Municipalidade que o isentava dos impostos, inclusive o predial, para instalar cinema, também com direito a apresentação de peças teatrais, bailes, concertos musicais, magias, tiro ao alvo, ginástica e também um bar.

O Cine Teatro São Lourenço, também conhecido por Condor, foi inaugurado em 3 de setembro de 1910.

Cine Condor em 1915

Porto Ferreira não tinha eletricidade; por isso a energia elétrica era produzida por dínamo movido a vapor.

Em 1911 foi inaugurada a iluminação elétrica e aí tudo se tornou mais fácil.

Os filmes, geralmente pantomimas, eram divididos em partes com pequenos intervalos, quando a tela era molhada com caneces d'água. Isto porque o projetor não ficava atrás do público, no uso atual, mas à sua frente e a tela sofria reflexo do aparelho se não fosse molhada de tempos em tempos.

Os filmes eram mudos, com pequenas legendas e, por isso, no salão em frente ao palco, pequenos conjuntos musicais de moços ou senhoritas da sociedade executavam peças nos pequenos intervalos e no meio do filme, quando o intervalo era mais longo, para que os freqüentadores pudessem dar uma esticada, ir ao bar ou lá fora nos tabuleiros que ficavam rodeados dos apreciadores de café, quentão, chocolate, balas, bom-bocado, queijadinhas e outras gostosuras.

Violinos, bandolins, violões, flautas e clarinetes eram os instrumentos mais usados na época.

Ãs vezes faziam fundo musical durante o filme, acompanhando o enredo com musicas tristes ou alegres.

Devido a desentendimento com Manoel Lourenço Junior, em 1913, Vicente Zini, Pedro João Fares, Inácio de Almeida, Joaquim Pinto Borges, José Marques Castelhano e mais alguns ferreirenses, formaram a sociedade União de Diversões.

Compraram a casa de número 27 com grande terreno na rua São Sebastião, atual nº 320.

Nasceu novo cinema: Cine-Teatro São Sebastião, também conhecido por Cine União inaugurado em 23 de junho de 1914.

Nascia também em Porto Ferreira enorme rivalidade.

Quem freqüentava um cinema não ia ao outro.

Havia até orquestra própria, times de futebol e a molecada não deixava moleque da rua de cima, ligada ao cine União, passar na rua de baixo, onde ficava o Condor.

O pau quebrava sempre.

Os filmes eram anunciados em tabuletas colocadas em pontos estratégicos, e cada cinema tinha um bando de meninos que jogava boletins nas ruas, ao som de toques de pequenas cornetas.

Dois meninos se revezavam carregando uma tabuleta, propagando do filme em cartaz.

à noite, rojões ou morteiros subiam anunciando o início dos espetáculos.

Tal situação, não conveniente para ambas as sociedades, perdurou até 1920.

No dia 28 de agosto foi formada a Aliança Cinematográfica.

Paschoal Salzano, mesmo sem nenhuma remuneração, aceitou gerenciá-la.

Proporia aos cinemas exibir os mesmos filmes. A partir daí um cinema passava uma parte do filme e assim que terminasse, era levada ao outro, até chegar ao final dos rolos.

Manoel Lourenço Junior, proprietário do Condor; faleceu em abril de 1924, mas, seu antigo auxiliar Máximo Fenili continuou com essa atividade.

Em 1926 o Cine Condor acabou encerrando suas atividades, passando a ser alí rinque de patinação, salão de bailes, bar e bilhar.

Em junho de 1928 o Cine União foi arrendado por C. Rocha e Cia., de Descalvado e, no final de 1930, passou às mãos de José Gurther Junior, também de outra cidade.

Em 8 de janeiro de 1931 foi inaugurada no Cine União a exibição de filmes sonoros.

Discos acompanhavam os filmes.

à maneira que o filme ia arrebentando-se durante as exibições, perdiam-se pequenas partes e não mais havia sincronia.

A fala ou mesmo um tiro ou latido de cão saiam bem depois de acontecer.

Logo depois também o União encerrou suas atividades, só voltando em 4 de dezembro de 1932 sob a responsabilidade da Empresa Teatral Paulista, de São Carlos.

Passou então a ser gerenciado pelo Sr. Juvenal Costa.

De 1933 até 1936 outra vez ficamos sem cinema.

O verdadeiro cinema falado, como era conhecido com o som gravado na própria fita, foi inaugurado no Cine União por Máximo Fenili e Vitor Patiri em 28 de janeiro de 1937.

O primeiro filme falado intitulava-se "Cartomante", com Henrico Caruso Jr. e Mona Maris, falado em espanhol e cantado em italiano.

A aparelhagem era da marca Solidus.

Em 1939 o cinema fechou novamente.

Em 1941 Benedito Miziara reformou o prédio do Cine União então de sua propriedade, e um grupo de ferreirenses, dos quais lembramos Mário Borelli Thomaz, Syrio Ignatios, Pedro Fares, Ulisses Borelli Thomaz, fundaram uma sociedade por ações comprando o acervo de um cinema de Santa Rita do Passa Quatro.

Tudo foi montado no prédio do velho União, então reformado.

A inauguração deu-se em 26 de setembro de 1941, com o filme "Homens de Minha Vida" (com Loreta Young).

Em 21 de novembro de 1948, no salão da sede Paroquial (hoje Caixa Ec. Federal), foi inaugurado o Cine São Luiz, sob a direção do Padre Nestor.

Em 1950 José Jorge Assef, de Pirassununga, comprou todo o patrimônio do Cine União, que continuou a funcionar. Em 1958 foi a casa de espetáculos inaugurada com o nome de Cine São Sebastião, em novo prédio.

Cine São Sebastião 1958

Tivemos também o Cine Recreio, de propriedade de Hermídio Salzano. (O Cine Recreio localizava-se onde hoje é o Sacolão).

Foi inaugurado no dia 1º de maio de 1953, com o filme "A Grande Valsa".

Os cinemas São Luiz e Recreio tiveram efêmera duração.

Desde 1951 também funcionava no grêmio Ferroviário, cinema ao ar livre, com projetor de 8 milímetros.

Logo depois, seu presidente, Américo Mondim, construiu pequeno barracão para abrigar os espectadores.

Em 1953 é construída a nova sede, projetando filmes em 16 milímetros.

Cine Teatro São Sebastião em 1955

Em 26 de março de 1967 o então presidente Elias dos Santos e seus companheiros de diretoria inauguraram nova casa de espetáculos.

Funcionou esta sob a responsabilidade da sociedade até o dia 1º de março de 1977, quando foi arrendada.

O cinema fechou em 1984.*

Só restava nosso velho Cine São Sebastião que fazia parte de nossa história, fazia parte da gente. Ribalta que se acendia para mostrar o fantástico.

Paredes que ouviram tantos segredos e juras de amor de várias gerações...

Portas que nos separavam de um mundo cruel que havia lá fora...

Nosso cinema fechou em 27 de novembro de 1986.

Simplesmente fechou.

Eu vi na calçada poltronas jogadas, desprezadas, rasgadas, esperando para ser levadas dali.

Ali, também estendidas na calçada, estavam as projetoras...

Maravilhosas máquinas que imitavam vidas.

Provocavam risos, lágrimas e suspiros.

Fabricavam sonhos.

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