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Tudo aquilo era fascinante para meus olhos de menino. Ficava maravilhado quando entrava naquela casa. Nem a mesa redonda com bonita toalha de crochê, cadeira de balanço com almofadas de retalhos ou a enorme cristaleira com xícaras e copos coloridos, chamavam tanto minha atenção como a coleção de borboletas na mesinha do canto.
Meus olhos brilhavam mais ainda, quando via aquele grande lustre que iluminava a sala. Era um lustre diferente, feito com centenas de vidrilhos e ampolas de injeção.
Cansadinha, mas sempre mostrando seu lindo sorriso, dona Joaninha nos acariciava com seu falar doce e agradável. Nós a chamávamos também de Sá Joana. Em seu quintal, debaixo de frondosa árvore, a gente lavava o Fordinho 29 de seu filho Frázio, e recebia em troca algumas pedras de açucar mascavo, brilhantes feito ouro.
Ninguém saía sem tomar um gole de café, servido por Etelvina, tantas vezes acompanhado de bolinhos ainda quentinhos. Crescemos assim, aprendendo a amar aquela família tão querida.
Moravam na rua Cel. João Procópio, 388, pertinho de minha casa, onde é hoje a Ótica de Ricardo Cozar e a Loja Charmille. Dona Joaninha, batizada Joana Maria Angélica, era casada com Giovanini Petini, pais de Honorato, Sebastião, Frázio e Etelvina.
Sebastião era casado com Benedita Crippa, pais de Doayr e Denirce (Nice). Frázio, um dos primeiros motoristas de praça na cidade, preferiu viver solteiro. Honorato não cheguei a conhecer e a Etelvina, já com idade madura, casou-se com Delfim Pereira da Silva, também de saudosa memória.
Frázio era estimado e admirado pelo seu jeito calmo e espirituoso a toda prova. Fazia comparações incríveis e inesquecíveis, olhando tudo na brincadeira.
Num dia de grande movimentação em frente à Prefeitura, uma multidão se apertava para assistir a chegada do atleta Silvinho Marques que, recebendo o fogo simbólico de um grupo de atletas de uma cidade vizinha, acenderia a enorme pira olímpica colocada em frente ao Paço Municipal. No momento em que Silvinho chegou correndo e foi acender a pira, Frázio foi logo tirando seu sarro: " saco... que saco, isqueiro público agora?" Todos riam de suas tiradas que mostravam seu espírito criativo.
Era querido e adorava os amigos. Chegou a ser tema de modinhas populares, também pela grande afeição que tinha pelas aves e animais.
Etelvina nasceu em 27 de outubro de 1897. Frequentou o Grupo Escolar e foi aluna de Sud Mennucci e de Maria Talles de Andrade. Seus coleguinhas foram Otília e Amélia Matoso, Júlia e Olímpia Meirelles de Carvalho, Antonia e Carmem Stoppa, Maria Júlia Marques Castelhano, as gêmeas Leonilda e Amélia Araújo, Angelina Crippa, Colita Alves, Lica Kaisen, Hermínia Fernandes, Cacilda e Sofia Silva, Idalina Loureiro, Rosa Fares e Salima Fares.
Etelvina tocava bandolim na orquestra de moças do Cinema São Sebastião, com Rosa e Salima Fares, que tocavam violino, além de tantas amigas que sempre lembrou com saudades.
Etelvina foi também uma das grandes foliãs de nossos carnavais e, muitas vezes, rainha das cavalhadas.
Em 1932, com a Revolução Constitucionalista, a orquestra de moças suspendeu suas apresentações.
Um dia, conversando com Etelvina, ela narrou tantas coisas bonitas que foi lembrando. A conversa foi interrompida por uma lágrima fina, que desceu por seu rostinho, e o soluço que embargou sua voz...
Aí, choramos juntos.
Ela faleceu em São Paulo em 6 de maio de 1995, com 97 anos e sepultada em Porto Ferreira no jazigo da família.
Fundado em 1991, o Clube Ferreirense que reune colecionadores de carros antigos tem o nome do Frázio.
Seu presidente é Rubens Tadeu Américo Brasil Parada e vice presidente Carlos Antonio da Silva Borges.
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