A saudade, com certeza, já tem meu endereço e me procura sempre, chegando de surpresa.
Vai chegando, sem bater empurra a porta, invade minha sala, e traz tantas lembranças que para mim são caras, quais jóias das mais raras que se tem para oferecer.
Parece que a saudade gosta muito de falar comigo, traz de volta um mundo de amigos que, já sem esperança, não mais pensei rever.
Me faz olhar o nada e ver gente tão querida às vezes esquecida.
Me faz voltar ao ontem, em tempo de poesia quando a felicidade vinha sem a gente perceber.
Voltar ao doce romantismo das bandinhas no coreto, de onde se ouvia ingênuos acordes às vezes entremeados de frases tão bonitas que vinham calar fundo em nossos corações.
A saudade faz lembrar o cair das tardes povoadas de casais que trocavam juras e furtavam beijos.
De mãos que se afagavam entre mil desejos.
A saudade mais uma vez me abraça e me faz voltar bem longe, no início do caminho onde colhi as rosas, onde pisei espinhos.
Lembrar, como é bom lembrar.
É como libertar o espírito que se prende em acumular angústias e a temer o tempo.
Vejo agora mãos que batem em maravilhoso compasso e pés que repicam firmes, quando a viola tenta cantar e chora no peito do cantador.
Lembro dos nossos mais antigos catireiros, velhos amigos com quem aprendi a rimar.
A saudade está trazendo aqui perto, bem pertinho, os queridos Malaquias, Doca Tangerino, Onofre Reginaldo, Sebastião Onório, Zé Casemiro, Antonio Stevan dos Santos, Robertinho Lara e Zé Mineiro.
Torno a ver aquela multidão aplaudindo a batida e as suas cantorias nas grandes quermesses do Padroeiro, quando barracas tomavam todo o largo da Matriz, que se transformava em sonho com tanta coisa bonita e tamanha felicidade.
Nas festas juninas também estavam sempre e nas grandes noitadas que só terminavam com o nascer do sol.
Só o Onofre Reginaldo ainda vive aqui com a gente, mas todos eles sempre voltam trazidos pela saudade.
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