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Lua, Lampiões e Luz Elétrica

 

Somente a luz da lua e o intenso brilho das estrelas iluminavam as noites da vila que havia crescido tão rapidamente e se tornado tão bonita. Tênue claridade dos candeeiros e improvisadas lamparinas escapavam pelas portas e janelas entreabertas, muitas vezes atingindo até o meio da rua.

Lua, deusa de luz prateada, estro de poetas, boêmios e sonhadores que atravessavam as noites cantando as canções mais bonitas, em homenagem a donzelas e bem-amadas. Serestas que se findavam só com a chegada do sol que, em ânsia, invadia a ramagem para beijar a relva molhada ainda.

Assim era Porto Ferreira de outrora...

Bem mais tarde, quando a Câmara Municipal de Pirassununga (município ao qual o distrito de Paz de Porto Ferreira pertencia) autorizou a colocação de lampiões em várias de nossas ruas, é que nossa cidade desfrutou de tão almejado benefício. Hoje não se sabe ao certo se 32 ou 38 lampiões belgas a querosene, colocados em postes, iluminavam as principais esquinas.

O primeiro contrato para iluminação pública feito pelo novo município só aconteceu tempos depois, no dia 3 de fevereiro de 1899, assinado pelo intendente João Miranda Salgueiro (pai). Pela quantia de quatro contos e trezentos mil réis, paga em parcelas mensais, a vigorar do dia primeiro de março seguinte, Joaquim Alves Pinto, conhecido por Joaquim dos Lampiões, teria que acender os lampiões no horário entre 5 e 7 horas da tarde, conforme as estações ao ano, e apagá-los às 23 horas.

Seria às suas custas as substituições. Zelaria pelos reparos, com exceção dos danos causados por terceiros. Teria também que mantê-los acesos durante as festividades cívicas e religiosas, pelo prazo determinado pelo intendente, recebendo por isso pagamento extra. Nenhum lampião poderia permanecer apagado por mais de 15 minutos, o que resultaria em multas ao Joaquim.

Usina São Valentim

Em 1902 nossa Câmara Municipal discutia o problema da iluminação elétrica, já existente em algumas cidades vizinhas. A onze quilômetros de Porto Ferreira havia a usina geradora São Valentim, propriedade do Visconde de São Valentim (Valentim Lopes do Prado), que oferecia seus serviços para instalação e fornecimento do equipamento elétrico.

Em meados de 1911, com muita festa, banda de música e foguetório, foi inaugurado o tão esperado melhoramento público. Logo depois, tal benefício foi oferecido aos particulares.

Residências e casas comerciais poderiam optar por lâmpadas de 10, 16, 25 e 32 velas. As lâmpadas de 10 velas somente eram fornecidas às casas cuja renda mensal não ultrapassasse vinte mil réis. Não era usado medidor. Cobrava-se por bico de luz, sendo proibidas derivações.

As lâmpadas não eram de rosca como as de agora. Iguais às lâmpadas de veículos, com dois pinos de encaixe, eram chamadas de lâmpadas de baioneta. Só poderiam ser compradas na empresa fornecedora de energia elétrica São Valentim. Quase sempre instalada na sala, com um fio bem comprido era levada a outros cômodos que precisassem ser iluminados. Nos cômodos mais distantes, era comum o uso de lamparinas ou velinhas alimentadas a óleo comestível.

A São Valentim passou a denominar-se Companhia Prada de Eletricidade a partir de 1923, quando passou a ser dirigida por Agostinho José Prada.

Era ainda menino, mas lembro-me bem que o escritório ficava numa sala, na residência do então gerente em Porto Ferreira, Antonio Stocco, no início da rua Dona Balbina, onde é hoje a bicicletaria do Carlão (em frente ao Marauto).

Em 1936 foi construído prédio próprio na avenida 24 de Outubro, 721, onde foi instalado gerador movido a óleo cru, destinado a reforçar a produção de energia. No mês de abril de 1955, para acabar com os contínuos racionamentos provocados pela maior demanda de energia elétrica e longas estiagens, foi instalado novo motor auxiliar movido a vapor d'água.

A partir de 1959, a empresa passou a distribuir energia fornecida pelas Centrais Elétricas do Rio Pardo e, a partir de outubro de 1974, pela Cesp.
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