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O CICLO DO CARREIRO

 

Dorivaldo Américo da Silva para o Centenário de P.Ferreira

Estima-se que foi no começo da década de 20 que passou a ser utilizado um maior número de carros de boi em Porto Ferreira. Antes, já havia alguns utilizados no transporte de lenha, cereais e outros produtos agrícolas. Donas de casa e as poucas indústrias, além das cerâmicas e olarias, prevaleciam-se da boa estima junto aos carreiros para encomendar a lenha necessária. Como não havia caminhões, era esse o único meio de transporte que distribuía tais benefícios à população. O "Ciclo do Carreiro" durou até por volta de 1965, quando esse tipo de transporte cedeu lugar aos veículos automotores, como o caminhão, o trator, etc. Assim sendo, essa tradição foi sendo enfraquecida, ficando na memória do nosso povo a lembrança dos velhos carreiros, de seus bois e dos rastros marcados nas estradas de terra ou de areia, por onde passavam.

Para que nossa nova geração tome conhecimento do que foi Porto Ferreira, no passado faz-se necessário fixar em seus anais essa rudimentar movimentação dos carros de boi, carruagens, carroções, carretões e carrocinhas.

A inspiração de seus eixos "cantando" sob o peso da carga; o carreiro e seu candeeiro moleque, caminhando com fé e sem pressa, têm sido conservados, ainda hoje, somente no Norte e Nordeste, onde as raias do progresso ainda estão longe de assumir um aspecto urbano desenvolvido.

E ao consumar-se a extinção dos mesmos, desativaram-se aquelas conduções, agora apodrecendo debaixo duma velha paineira ou de outra árvore qualquer.

Dessa maneira, na hipótese daqueles engenhos rodantes- peregrinos terem sido traídos pelo tempo em sua devastação moderna, guardamos na recordação seus figurantes estradeiros, entre eles o preto João Eleutério, (um dos primeiros carreiros); Maneco Tangerino, Dionísio Tangerino, José Francisco de Oliveira (Nêgo-Moço), João Lima, João Rosini, João Tangerino, Marcolino Reducino, seu filho Alfredo Reducino, Domingos de Lima, Anísio Calixto, Argemiro Calixto, João Ferraz (da Fazenda Santa Mariana), Joaquim Pereira (da atual Fazenda Rosana).

CASO PITORESCO

Consta que o sítio do carreiro João Eleutério era o melhor e bem mais conservado de todo o bairro da Fazendinha. A mataria, as nascentes, a casa, a plantação, cercas e porteiras davam inveja. Luz elétrica ainda não existia e a lamparina era a luminária em todas as ocasiões. Acontecia, porém, que o carreiro, Manuel Tangerino, vulgo "Neco", para cortar caminho e ganhar a estrada preferencial, passava com seu carro de boi por uma fenda aberta num trecho do sítio do amigo Eleutério e este parecia não gostar muito, embora "fechasse os olhos".

Até que um certo dia, conversando com sua mulher, Joana Antônio Eleutério, decide ir falar a Tangerino para que usasse da estrada principal, que também não era tão longe, evitando assim de atravessar suas terras. Manuel Tangerino, então, retrucou a "Sêo" João Eleutério dizendo que aquele caminho constava do bairro como "livre e desimpedido" para ser usado por todos. O caso entrou em demanda judicial com Eleutério afirmando que conhecia até os pontos onde estavam as estacas de cada sitiante e que a referida escritura de cada proprietário "estava certa". Ninguém poderia passar por trilhas que não lhe pertencesse, a não ser com a devida "autorização" de seus legítimos donos.

Numa tarde em que João Eleutério precisou ir a Descalvado, a fim de atender à derradeira intimação, para conhecimento da decisão do juiz, sua filha, única, adotiva, "candieira" no trabalho de guiar o carro de boi, de nome Olívia, atendendo o mandado de sua mãe, para que fechasse a janela do quarto, o fez distraidamente, ocasião em que prendeu, no vão da janela, o pescoço de uma galinha amarela botadeira, que naquele instante tentava escalar o aposento para ir aninhar-se no canto onde construíra o ninho. chegada do velho carreiro, logo dona Joana foi-lhe contando o ocorrido, e que a ave já estava pronta para o jantar.

Olívia procurou esconder-se imaginando a bronca do pai. Para surpresa sua e da mãe, "sêo" João Eleutério sacou de um litro de vinho que trazia dentro do embornal na carrocinha e foi logo dizendo:

- Não tem importância! Chame a menina para abrir este litro de vinho que já vamos comemorar a vitória sobre o velho "Neco". O juiz assinou a nosso favor a sentença da passagem do caminho.

Foi aquela festa.

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