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Nos meados do século que passou, muito caboclo pediu passagem na balsa do João Ferreira, que foi construída ao pé de um casario, no topo das barrancas do Mogi Guaçu, pra baixo das corredeiras do peixe roncador.
Do João, balseiro, marinheiro tarimbado de rio de correnteza forte, a mulher, e trempe de filhos, ribeirinhos do núcleo da Boa Vista e na fronteirario da cidade de hoje, ninguém mais se deu de saber donde se foi sua glória, donde findou sua estória. E o povo que cruzava o rio? Donde se desbancava e que destino demandava essa intromissão de gente, empoleirada em balsa capenga, gingando na marola, se agarrando nos trens de cozinha e de vestir, acoitando à rédea curta o gado pequeno de sustento e de procria em terras de futurição, transportado com mais olhos de cuidado que de estima?
E se, findando a caminhada, fossem terras bem aos nortes, não seria pelo ouro das Minas Gerais; templo já fazia que o Império calara as glórias de Sabará, Mariana e Ouro Preto. Ouro de batéia, de peneira vazia d'água e do brilho sobrante que faísca o metal no fundo, já nenhuma falação naquele tempo. Pois era gente de por aí de perto que aportava aqui, que não ia mais longe não. Povaréu de vizinhança de rio, fazendo querência de água farta e de peixe de sustância; rio acolhedor, também, de longe em longe, de estranho errante dos fazendões das campinas. Gente pouca, de aldeamento de beira-rio.
Eis que aportaram as barcaças abarrotadas de café do Pontal, Guatapará, o Mogi virando estrada de água, iam brincando na estrada de ferro da Paulista, pra São Paulo, Santos e além-mar, levando o café depois do porto que virou Porto, não só do João, mas do Ferreira. Porto entreposto, de carga-descarga de mercadoria preciosa, o Rei Café. Porto embarque-desembarque, entrocamento-acesso de recente sertão à Capital da província ao porto de mar, ao mundo. Portofeitoria, donde se gerenciava o caminho flúvial e o transbordo nos trens a vapor, na algaravia dos viajantes, indo-vindo no planalto de Ribeirão.
Porto de amizade antiga de negociante e fazendeiro Do além e de mais perto, trazendo de pós si o imigrante português, o espanhol, o italiano, para amainar as terras de café, ao depois da Lei Aurea. Porto de vilas que viraram cidades. Porto de quatro rios, dos meus rios os curumins Sapé, Serra D'Agua, Santa Rosa, Bonito (onde em criança aprendi a nadar) e o GuaçuTupã (onde em criança aprendi a pescar).
O Rio Mestre, o chefe, o quinto, o temido. Vertentes de passado em glória, arfantes hoje ao peso do progresso. Porto de rios da minha saudade. Meu Porto dos cem anos de esperança B. Caprioglio Abril, 1995 Porto Ferreira.
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