Era eu ainda criança, mas lembro-me do cemitério com seus muros trincados e tijolos em desalinho com seu único portão na rua Cel. João Procópio. De um lado o buracão, onde a terra era retirada para aterros e construções, e logo atrás, o pequeno reservatório de água, de forma retangular, que abastecia a cidade, ali mesmo onde é a estação de tratamento.

Ao seu redor, marmelos, gabirobas e marolos cresciam entre grandes árvores nativas. Onde hoje começa a avenida Dr. José Ferreira de Azambuja, uma porteira era a entrada para o Sítio São José, de propriedade de João (Turco) José Atab Miziara, e na frente do portão do cemitério, ciprestes ofereciam sombra.

Aquelas enormes árvores de forma cônica pareciam chorar quando o vento forte invadia sua ramagem, fazendo envergar suas pontas.

Acreditava-se que elas choravam de tristeza ou saudade, por isso eram conhecidas por chorão.

O primeiro zelador que eu conheci foi o velho Bernardo Antonio dos Santos. Já fazia muitos anos que ali trabalhava e ainda tocava na banda, era o fogueteiro das quermesses e por conta própria fazia às vezes de carteiro, entregando à domicílio a correspondência que chegava ao correio. Em troca, recebia pequenas gorjetas ou presentes de firmas comerciais, de indústrias e de pessoas mais abastadas.

Com sorriso, também aceitava um "muito obrigado" ou "Deus lhe pague". Era muito amado e amigão de todos. Trabalhou no cemitério até dezembro de 1940 e faleceu no dia 30 de março de 1941, com 68 anos de idade, deixando viúva Ana Rosa dos Santos e numerosa família, tão querida por ele e por nós. Centenas de ferreirenses velaram seu corpo e assistiram ao seu sepultamento. Nossa banda se fez presente no último adeus ao velho companheiro.

Depois... Dito (Soldado) Pires, Jorge Martins de Oliveira, Álvaro dos Santos, Chiarello e tantos outros, trabalharam no velho cemitério, que foi construído em 1887 a mando de Abel Cardoso de Araújo Lima. Dez anos depois o intendente João Miranda Salgueiro solicitou da Câmara autorização para urgente ampliação do cemitério e por isso é de se acreditar que as vítimas das diversas epidemias que assolaram Porto Ferreira não eram sepultadas somente no "Cemitério dos Bexiguentos", construído especialmente para isso no bairro de Santa Cruz (Botafogo).

Só em 1937 foi colocada água encanada no velho cemitério da rua Cel. João Procópio e, em 1950, o prefeito Manoel da Silva Oliveira mandou reformar o muro e o necrotério e abrir portões de acesso à rua Dona Balbina. A entrada principal foi remodelada e lá dentro as antigas árvores foram substituídas.

No ano de 1963 o prefeito Joaquim Coelho Filho fez construir o abrigo para resguardar as velas votivas, que eram acesas ao pé da cruz interna que recebeu da população o nome de Cruzeiro.

Em sua gestão (1973-76) o prefeito Dorival Braga melhorou o piso e fez construir pequena rampa, dando assim condições para entrada de carrinhos e veículos funerários. Ainda fez trocar a rede de água, instalação de luz elétrica, para sepultamento também à noite. Os pequenos postes com globos, ali instalados, eram de nosso Jardim Público, construído na gestão do prefeito Syrio Ignatios.

Os mais antigos túmulos que se identificam é do menino Octavio, filho de Manoel Franco do Amaral e Maria Alves de Souza Aranha, falecido em 1891, e de Abel Cardoso de Araújo Lima, falecido no dia 18 de maio de 1892, provável fundador do cemitério.

Talvez existissem túmulos mais antigos que, por abandono, desapareceram com o tempo.

O mais novo cemitério, na avenida General Álvaro de Góes Valeriani, é obra do prefeito Osvaldo da Cunha Leme. Ali o primeiro sepultamento deu-se em 16 de julho de 1967. Os túmulos obedecem a um padrão estabelecido por lei municipal de 31 de agosto de 1965.

O terreno onde se localizava o "Cemitério dos Bexiguentos", por prejudicar a visibilidade de acesso à rodovia de Santa Cruz das Palmeiras (SP-215), foi nivelado em dezembro de 1974. Antes, porém, o prefeito Dorival Braga teve o cuidado de mandar fotografar o local para preservação da história.