O velho Yonas viajava também naquele veleiro repleto de imigrantes que entrava em águas do Brasil. Era um humilde marceneiro sueco, que mais tarde instalaria em São Paulo sua modesta oficina, em Porto Ferreira, onde sua filha se casaria com o português Manoel Lourenço Junior.

Desse casamento nasceu também um Manoel Bergstron, Lourenço Filho que teve desde logo seu nome reduzido para Lourenço.

O menino Lourenço teve três mestres. O primeiro foi o avô materno, o marceneiro sueco Yonas que, depois da aula, pegava uma rabeca e tocava para os alunos uma melodia bonita de sua terra.

Tempos depois Lourenço tinha outro professor, conhecido como o "Mão de Letra", por causa de sua caligrafia.

Este professor mantinha em Porto Ferreira o sistema da escola tradicional, que ensinava por ameaças e castigos.

Quando Lourenço ainda era aluno do "Mão de Letra", fundou um jornal "O Pião" assinatura a 200 réis por mês. Redator, tipógrafo e distribuidor: Lourenço Filho.

O redator, tipógrafo e distribuidor de "O Pião" tinha naquele tempo sete anos. Apareceu em Porto Ferreira, então, um novo professor, que ia fundar nova escola, e propôs ao "Mão de Letra" que dividissem os alunos, sugerindo-lhe que lhe desse os piores. Lourenço figurava entre os onze alunos despedidos pelo "Mão de Letra". E lá se foi, como um condenado. O ambiente da Escola Estadual surpreendeu, porém, os meninos. Em vez de bancos longos e desajeitados, carteiras envernizadas e cômodas. E o professor era um jovem de vinte anos, cujas primeiras palavras para seus novos discípulos foram: "Meus amigos..." Sua voz era suave e cantante, serena e decidida. Era a voz do mestre Ernesto Alves Moreira, que iria definir os rumos de uma vida a do menino Lourenço.

Realmente, Lourenço Filho fez-se moço e homem, convencido de que o Brasil só poderia ser construído pela educação. E começou então a realizar o seu grande sonho de educador.

Professor na Escola Normal de Piracicaba foi, a convite do governo do Ceará, chamado a promover reforma radical no ensino do Estado. Foi professor e diretor do Instituto de Educação da capital da República, presidente do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos e, por duas vezes, diretor do Departamento Nacional de Educação do Ministério da Educação e Saúde, o mais alto posto de ensino no país.