Quem passa hoje na rua Mathias Cardoso e vê o casarão número 357, jamais poderá imaginar quantos momentos felizes houve ali.
Nós, ferreirenses mais antigos, sabemos bem, por termos tantas vezes partilhado com alegria as festas que sempre aconteciam.
De portas e janelas altas, de estilo simples e bem antigo, aquele casarão hoje triste foi a residência de João Salgueiro, um dos homens mais admirados e queridos que tivemos a felicidade de conhecer.
Morava com seus avós João Leodobino da Costa e dona Maria Jezuina de Jesus. Começava ali o grande sítio, que orlado pelas ruas São Sebastião e Mathias Cardoso, avançava até o matadouro, atravessando o córrego Santa Rosa, indo até próximo aos trilhos da Fepasa.
A casa do retireiro, curral, canavial, terras de plantio e o monjolo ficavam bem ali onde hoje é o Minhocão.
Quem passasse pela porteira da rua Mathias Cardoso, ao lado do casarão, descia por longo caminho cercado de eucaliptos que ia terminar próximo ao córrego.
Ali, na Mathias Cardoso, começava o pasto e os coqueiros próximos à cerca; era uma tentação para os garotos que não resistiam só olhar os coquinhos de um amarelo tão reluzente, que dava água na boca. Era só passar em baixo do arame farpado, se o gado não estivesse pastando por ali.
E nas noites de São João, era tudo impressionante. Toda nossa população lá comparecia e aconteciam as festas mais bonitas que já vi. Na rua, bem em frente à casa, enorme fogueira clareava bem distante; centenas de Ferreirenses aguardavam para saírem em cânticos e orações carregando bandeiras dos três Santos. Depois o mastro era erguido e, ao seu redor, a terra era socada pelos devotos que acendiam velas e faziam seus pedidos. Rojões e morteiros espocavam bem alto, iluminando ainda mais o céu. O povo era convidado e, aos grupos invadiam a enorme sala onde era servido o gostoso chocolate e os deliciosos bolos, pandelós e biscoitos.
João Salgueiro sorria com satisfação em assistir tudo aquilo. Satisfação que os homens bons sentem em poder doar. João Salgueiro nunca se sentava sozinho à mesa. Sempre convidava os amigos para acompanhá-lo às refeições. O convidado poderia ser uma autoridade ou uma das pessoas mais simples que ele encontrava ao ir para casa. Todos, todos eram seus amigos.
Sua avó, dona Maria Jezuína faleceu em 1932 e seu avô um ano depois.
João Salgueiro era também proprietário do Sítio São Vicente, que se iniciava na Via Anhanguera e ia até a barranca do rio Mogi.
Além do jogo de cartas, onde ficava com os amigos até de madrugada, gostava muito das folias de carnaval e das quermesses de São Sebastião, em que ofertava e arrematava grande quantidade de prendas nos leilões. Também gostava muito de música sertaneja. Zé Carreiro gravou música em sua homenagem, falando de abastados fazendeiros, peões e montarias. A música tem o nome de "Burro Selvagem".
Admirador de bom futebol, foi presidente do Porto Ferreira Futebol Clube em 1942. Gostava de tudo que tivesse participação do povo. Todos que trabalhavam com ele, na casa, na lavoura, ou lidando com o gado, eram seus amigos.
João Salgueiro viveu bem, viveu feliz. Faleceu com 75 anos de idade, no dia 21 de outubro de 1964. Sua filha Laurinha faleceu no dia 25 de dezembro de 1970.
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