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RECORDANDO O PASSADO

SONETO E A VIDA
 

Alberto Salzano

Ali pelo meado da década de 20, quando Julio Prestes era o Governador do Estado de São Paulo e Washington Luiz o Presidente da República, um sadio passatempo da mocidade ferreirense, entre outros, era colecionar poesias e sonetos.

Comumente a gente recebia um enfeitado caderninho, de um amigo ou amiga, para nele deixar, como lembrança, uma poesia, um soneto ou mesmo um pensamento qualquer.

Eu trabalhava, nesse tempo, na Farmácia Meirelles e nas horas vagas passava para o meu caderno particular os sonetos e poesias tiradas de almanaques, revistas ou jornais, que serviam para atender os freqüentes pedidos que me faziam, como ainda socorrer meus companheiros, apanhados desprevenidos. Guardo até hoje esse caderninho, como recordação daqueles bons tempos.

Mas, de todos os sonetos que li ou passei em meu caderno, um ficou gravado, indelevelmente, em minha memória e convive comigo até hoje e quanto mais o tempo passa, mais eu o sinto re­al.

E aqui vão os 14 versos do lindo soneto, que há 68 anos me acompanha:

CONTRASTE

Quando partimos no vigor dos anos

Da vida pela estrada florescente

As esperanças vão conosco em frente

E vão ficando atraz os desenganos

Rindo e cantando céleres e ufanos

Nós marchamos descuidosamente

Eis que surge a velhice derrepente

Desfazendo ilusões matando enganos

Então nós enxergamos claramente

Quanto a existência é rápida e falaz

E vemos que acontece exatamente

Ao contrário dos tempos de rapaz

Os desenganos vão conosco à frente

E as esperanças vão ficando atraz

A primeira estrófe coincide bem como o meu modo simples de viver,em minha longínqua mocidade. Cheio de esperança e sonhos, eu caminhava no vigor de meus anos, pela estrada florescente da vida. E como era feliz!

Já na metade desta existência, comecei a ver o outro lado, quando as ilusões aos poucos foram se desfazendo e a realidade se estampou rápida e claramente a minha frente, como na segunda estrófe.

E agora em minha velhice (84 anos), eu sinto como são verdadeiros os dois tercetos finais do soneto: "E vemos que acontece exatamente ao contrário dos tempos de rapaz. Os desenganos vão conosco à frente. E as esperanças vão ficando átraz". Pura realidade!

O nome do autor deste lindo soneto* eu não me lembro, mas tenho certeza que o José Klein, que no campo da poesia é diplomado sabe!

Finalizando: Agradeço a Deus a velhice que Ele me deu. Nada tenho a me queixar.

Perdem-se as esperanças, sofrem-se os desenganos, mas nunca devemos perder o interesse e o sentido da vida.

Transcrito do "Jornal do Porto"

15 de Abril de 1995

* O soneto "contraste", é do poeta e historiador cearense, Padre Antonio Tomás de Sales.

Nasceu em Acarau no dia 14 de Novembro de 1868 e faleceu em Fortaleza no dia 17 de Julho de 1941.

Recebeu o título de "Príncipe dos Poetas Cearenses".

Alberto Salzano, faleceu em São Paulo, no dia 2 de Fevereiro de 1996. Seu corpo foi cremado e as cinzas, trazidas para nossa cidade, foram depositadas no jazigo da família.

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